I
Considerou aquela guriazinha simplesmente
encantadora, talvez por ela não ser uma grandessíssima e perfeita idiota como a
ampla maioria de adultos do seu entorno. Poucos instantes escutando-a foram
suficientes para esse efeito cativante. Decidiu imediatamente: gostaria de
vê-la e ouvi-la mais e mais vezes, como em Mil
e uma noites. Mas, como conseguir isso?
II
Então, a guria, já em tom de finalização dos
prolegômenos, ou melhor, daquela centrípeta conversa, pediu-lhe, aparentemente não
sem um certo constrangimento, meio pão e um livro, agradecendo antecipadamente
e apresentando suas escusas pelo incômodo e pela ousada ousadia de não pedir
apenas alimento para a dimensão fisiológica.
III
Eureka deus ex machina! Suspeitou, em tom de certeza: ambas conheciam
García Lorca. Portanto, ambos desejos, ou melhor, os desejos de ambas seriam
atendidos. Inverteu a equação. A desordem dos fatores, nesse causo, adequaria o
produto. Deu-lhe um pão e meio livro. Isso seria, seguramente, a garantia do
retorno.
X
E isso serviu de mote para o início da escrita do seu
próximo livro: ‘A garota que pedia livros’. Ou será que ficaria melhor ‘Meio
livro e um pão’?