Numa calçada qualquer da
praça central de uma ordinária cidade do sul do Mato Grosso do Sul, ocorre um
encontro de corpos: uma cara, que acaba de descer do carro para saborear um
pastel, e um cara, que, aparentemente, estava tentando levantar uns cobres.
O cara, na mó moral e
simpatia, pediu-lhe, sem metáforas, sem palavras pela metade e em clave de
“sincericídio”, um troco pra comprar um etanol potável. Talvez para tornar o
pernoite na praça menos cabuloso.
Com aquela sua habitual
saída pela tangente, ela respondeu que não tinha “dinheiro em espécie”, coisa e
tal etc., que só usava cartão e, com aquele jeitinho de sempre, deu um suave perdido
no mano, que, simpaticamente, agradeceu e continuou sua itinerante expedição em
busca dos cobres. Um tipo de cara que sabe chegar, ser_estar e sair, tudo na mó
moralzinha.
Dezenas de minutos depois,
ocorre um casual reencontro dess@s sujeit@s, porém, desta vez, num semáforo,
nas imediações do local do primeiro encontro.
O cara, que aparentemente continuava
tentando arrecadar uns trocados, reconheceu a interlocutora e, com as mesmas
simpatia e moral de outrora, fez sinal para ela parar o carro e baixar o vidro.
Pedido de dinheiro novamente? Não! Ele somente quis agradecer pelo fato de ela
tê-lo “tratado como gente”.
Talvez esse tenha sido um
dos agradecimentos mais extemporâneos que ela tenha, por ora, recebido nesta balzaquiana
vida: uma pessoa, gente, agradecer a uma outra pessoa, gente, por ter sido
tratada “como gente”.
O que custou para ela
apenas não tê-lo destratado? O que significou, para ele, o simples fato de ter sido
“tratado como gente”?
Talvez, seguramente, uma
história por e para ser contada, de maneira oral ou escrita.
Profundo.
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