Voltando à casa, ele encontra um vizinho, desconhecido, arrastando algo aparentemente pesado pelo corredor. Solidariza-se e propõe-se a ajudá-lo. A proposta de ajuda foi aceita.
O objeto é um saco de pancada. O vizinho diz que irá jogá-lo no mato, por razões de mudança de residência.
Ele se recorda das esportistas sobrinhas de uma pessoa muito gente boa. Será que o objeto poderia ter utilidade para elas? Aceita a proposta de doação feita pelo vizinho e leva o objeto para a sua casa, acomodando-o num canto da redonda sala.
Após alguns minutos, bate-lhe à porta da preocupação um incômodo e ordinário pensamentozinho: e se dentro do tal saco houver algo resultante de um crime, por exemplo, um corpo humano, armas, drogas, joias, dinheiro etc.? E agora? O que fazer, uma vez que a possível evidência já está dentro da sua casa? Bastaria um anônimo telefonema do vizinho para a polícia e, pronto, a casa cairia e ele, doravante, tornar-se-ia um criminoso.
Pensou em colocar o objeto no carro e despachar no mato, mas… e se a polícia o abordasse no trajeto ou bem na hora da desova? E se a polícia já estivesse no portão, esperando-o para dar o enquadro? Lembrou-se do São Machadão: “preso por ter cão, preso por não ter cão”.
Mas, nada que um bom livro bom não ajude a resolver ou ao menos mitigar, ainda que momentaneamente. Ao som de “O peru rodou”, de Maria da Inglaterra, abriu uma gelada, sacou da estante “Crime e castigo”, de Dostoiévski, deitou-se na rede e fez de conta que a sua pré-ocupação não passava de uma hiperimaginativa fabulação literária, resultante das diversas leituras de romances policiais.
https://www.youtube.com/watch?v=RoCpKAy9ClI&list=PL9I5vFTqpe1cZx_sqjoRPEGVKOZk-59mb&index=2
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