Pés. Às vezes, um só. Comumente,
dois. Alguns têm quatro. Pés. Pés que levantam. Andam. Correm. Chutam. Amassam.
Adiantam-se. Adiantam um lado. Dão firmeza. Sustentam. Nunca param. Às vezes,
descansam, enquanto estão a carregar pedras. Até no sonho, trabalham. Pés
ininterruptos. Não têm direito de parar. Por isso, nunca (se) cansam, apesar de
cansados estarem. Pés que às sempre sabem – comumente, não – onde não querem
chegar. Aconchegar-se. Pés descalços. Despidos. Desnudos. Supinos, sopranos,
contraltos. Calçados. Meio rasgados. Meias remendadas. Sapatos furados. De
tanto andar: para quê? Pés rachados. Sem alianças. Ressecados. Pés de boi. Pés
que nunca deixam na mão. Pés que pisam, mas não na bola. Pés que atravessam
desertos, escalam montanhas. Atravessam o Pacífico e o Atlântico, sem deixar
Índico, na contramão. Pés calejados. Destratados. Pisados. Que nunca
responderam ‘presente’ num salão. Pés que estão por aí, a descer e a subir, a
ir e vir. Que já não mais aguentam trabalhar tanto, demais. Mas precisam e não
podem esperar acontecer a revolução. Tem gente que troca os pés pelas mãos. Uma
possibilidade ou necessidade ou probabilidade. Provável? Tem gente que tem pés
no chão. Por isso mesmo não perderam a utopia e, de pé em pé, de passo em paço,
vão tecendo uma ideologia: chuta tudo, péão!
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