No começo, como quase todo
começo, era mil maravilhas. Ele, “seu dono”, separava antecipadamente um tantão
de comida pra ela, a cadela.
Depois, passado algum tempo, ele
lhe dava um resto. Meio com dó, mas dava, principalmente aquelas partes
inservíveis, como, por exemplo, os ossos.
Depois, os ossos passaram a lhe
ser jogados apenas após totalmente desprovidos de quaisquer resquícios de
tecidos não ósseos.
Depois, já não mais ganhava
nada, sequer ossos. Teve que ir atrás da própria comida.
Depois, a comida que ela
conseguia passou a ser expropriada por ele.
Ela achou estranho, mas decidiu
que era a vez de ela ser a provedora. Mas, chegou um dia que ele, sem titubear,
mordeu a orelha dela para roubar um pedaço de rato que ela havia 'negociado' com
um gato.
Foi o estopim. Entrou em estado
de alerta púrpura. Já não mais dormia tranquilamente. Tinha que ficar,
permanentemente, com dois no gato e dois no peixe. Mas, quase tudo na vida tem
seu limite.
Uma noite ela não resistiu e
caiu no sono. Estaria ela ainda viva? Tivera um sonho horrível! Acordou
assustada. Ficou ainda mais assustada com o olhar dele para ela! Estaria ele
pensando em utilizá-la para se reproduzir ou para reproduzir a própria-dele
vida?
Pensou bem e inconcluiu: esse
papo de que o cachorro é o melhor amigo do homem, por diversas razões, não
cabia pra ela Afinal, era o cachorro e não ela, a cadela. De vocação para
mártir nada tinha ela. Questão de gênero, número e graal... de (in)sanidade
mentau. Deu cachorro loco. Não estava a fim de ser mote de diálogo para os
‘irmãos das almas’.
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