o cachorro, sarnento, moribundo, todo danado,
sem-renda, sem-trabalho, sem-teto, sem-terra, sem-tudo,
sem-nada, sem-lenço, sem-documento,
esforça-se,
tenta dar a vida, tenta dar o sangue, mas...
entra na frente de um fênêmê trucado, carregado até a
estratosfera de placas de mármore, em plena ladeira abaixo...
se joga na frente do busão centro-perifa, quando o motô tentava
dar um rpm para pegar o sinal aberto...
pula na frente da coral que, sirenando, vai enfrentar mocinhos-bandidas...
tenta enfiar a cabeça embaixo da roda traseira da moto-táxi que
carrega uns 350 quilos sobre ela
tenta entrar embaixo das patas de um cavalo que, chicoteado na
cara, vem em alta rotação
todas as tentativas frustradas
tudo o que conseguiu foi chamar a atenção de
meliantes-transeuntes, que chamaram uma ONGA para dar um jeito nele, um
cãozinho adoradoqueridomelhoramigodohomem
A dona da ONGA pousou para o jornal, cliques e claquetes,
holofotes eticéteretown
abusou da responsabilidade social
como forma de garantir seu marketing pessoempresarial.
Levaram-no para um lavapet,
tingiram sua pelagem,
de afixarem nela berliques e berloques ®.
Agora, diziam, era um cãozinho feliz, de família direita,
tinha um lar, carinho, comida, fama e tudo que alguém realizado
e de sucesso poderia ou gostaria de ter.
Depois das inúmeras tentativas frustradas
de suicídio e estando, agora, prisioneiro da agonia,
não lhe restou outra
opção,
a não ser refletir todos os santos santodias.
Relembrou daquela fita de que um dia se procuraria pela morte,
mas
não sea encontraria.
Era um cachorro quasateu, meio livre-pensador,
era.
agora, se converteu
aderiu ao ecumenismo
e espera aprender esperanto
mesmo não mais tendo esperanças
de ir proutro andar
mas... não conseguiu
talvez mude para o ecomenismo, ecologia tá na moda!
ou se filie ao ecomunismo
sem dúvida aparecerá alguéns para matar e nenhuma ONGA prajudar.
Alguém que não dá conta nem de [se] suicidar
só tem que se matar,
pen sou.
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