I
Dono de uma rede
de supermercados, considerava-se – não um, mas – o exemplo de sucesso, o
legítimo e verdadeiro espécime de determinação e de empreendedorismo. Era um
ardoroso, incansável, incorrigível defensor das “liberdades individuais
incondicionais”, do “livre mercado”, da “livre concorrência”, condições que,
para ele, eram única possibilidade de redenção, de civilização, de
sociabilidade, de... de... de. Assim, era contra a intervenção do Estado,
aquela “pesada e antiquada máquina burocrática” na vida dos indivíduos, na vida
da “sociedade civil”, porque o Estado atrapalhava o direito “natural” de “liberdade”
de organização e de negociação entre indivíduos “plenamente livres”.
II
Um dia, uma
economicamente pobre mulher, alheia às determinações do “Estado castrador de
empreendedores”, resolvera vender peixes próximo ao supermercado dele. “Peixe
fresco e barato!” “Direto do pescadô ao consumidô!” “Eu mesma pesquei!”
“Qualidade garantida!” “Pode chegar, freguesia! Traz o dinheiro e a bacia!
Alimento saudável e muita economia!”
III
Foi sucesso
total. Tava até pintando convites pra ela fazer locução de rodeios, mas ela era
defensora dos direitos dos animais. Ela cativou muitos clientes. “Cliente
satisfeito, volta garantida!” “Atendemos bem para atendermos sempre!”
IV
Ele, defensor
incondicional da livre concorrência, achou que aquilo era “concorrência desleal”.
Recorreu ao “Estado interventor” para que aquela “peixeira” fosse proibida de
continuar vendendo peixes nas proximidades do supermercado dele, ou melhor, na “rua
dele”, praticando “concorrência desleal”. A “livre concorrência”
interessava-lhe apenas quando resultava em benefícios para ele. Afinal, “livre
mercado” tem limites.
X
Afinal...
infiliz
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