I
Inverno
invernal. Em pleno outono. O vento uiva, congela chamas, labaredas. Na calçada,
uma das crianças chora. Pergunta pra mãe por que eles não têm casa pra morar. A
mãe, além de não ter resposta, não está a fim de prosa. Pensa um pouco sobre o que pensa há
anos. Diz que “é porque assim Deus quis,
quer”. A criança tem fome, mas não engole essa. Nem outras. O que comer não
tem.
II
Um
cidadão, auto altamente considerado “de bem” e de “família estruturada”, passa.
Sente-se incomodado. Pensa alto: “calçada é lá lugar de moradia pra ‘família
desestruturada’?” Diz, por força das circunstâncias, “boa noite”, mas, na real,
queria dizer o inverso. Segue, satisfeito e de queixo empinado, seu caminho
rumo ao seu “lar, doce lar”. Satisfeito por ter dado duro na vida, por ter
vencido sozinho na vida (ou a vida?). Satisfeito por não ser um perdedor-fracassado.
Nesse momento percebera que estava numa esquina muito movimentada. Aproveitou e
bateu repetidas vezes no próprio tórax e deu graças.
III
(re)publicano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário