Tudo
começou com o estranhamento, que lhe afetava até as entranhas, que já lhe eram
extragñas.
Estranho,
passou a estudar o estranhamento. Com h_afinco.
A
princípio, em princípio, conceitual e categoricamente, estranhamento lhe era
estranho.
Porém,
com o tempo, essa estranhice, esse estranhamento foi se esvaindo.
Assim,
o estranhamento, de estranho - num primeiro – passou a ser, num segundo
momento, familiar e, já num terceiro, passou a ser familial, vicário, visceral,
quase vital.
O
estranho estranhamento passou a ser entranho.
Desdaí,
em tudo, em todos, a todo instante, passara a ver estranhamento que, de
conceitual, passou a atitudinal.
Já
não via outdoors, televisão, pessoas, cão, mas, sim, estranhos, estranhados, estranhamentos.
Estranhados
em-si. Estranhados para-si. Estranhados de per si.
Ao
se olhar nu espelho, um estranho no espelho: ex-peliado, um reflexo
estranhado—estranhante-estranhável.
Dormir
já lhe era estranho. Sonhar, estranhado. Pesadelar, acordar, banhar, sexuar,
refeiçoar, andar, falar, falhar, olhar. Até o respirar. Em tudo estava presente
o estranhamento.
Tão
presente, que parecia inerente.
Até
que um dia, à noite, já meio tarde, observando a pedra masculino, descobriu o
fetiche do estranhamento.
A
partir de então, desestranhou [de] tudo. E tornou-se [ou foi tornado?] um
estranhecido.
Tudo
terminara com um estranhamento, que lhe afetara até as entranhas.
II
As
pessoas passaram a passar pelo estranhecido e a dizerem: sempre estranhei esse
estranho!
III
O
estranhecido está escrevendo uma autobiografia intitulada “Do estranhamento
marxiano ao desentranhamento marciano”. Profere também palestras intituladas
“Quem tem medo do (des)estranhamento?”.
IV
Seu
próximo empreendimento será um filme, baseado na autobiografia: Extranha-men. Breve nos cinemas.
V
Tendo
uma recaída, resolveu ressignificar seu estranho posicionamento diante do
estranhamento.
Cansado
da guerra de_movimento, mudou-se de_posição na guerra. Montou um exército de um
homem só, especializado em operações montaigneosas. Seu brado de guerra: “nada
do que é humano me é estranho”.
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