Achava o maior barato analisar
aquelas fachadas com erros. Alguns davam margem a interpretações mil. Seriam herros
mesmo? Propositais? Capciosos? Ou seriam probleminhas de hortografia. Sim.
Apenas um probleminha de hortografia, sem maiores conseqüências.
Muitas vezes, tinha mais dúvidas
do que incertezas. Mas havia um herro a respeito do qual tinha certeza. Ou pelo
menos pensava que tinha. Mas, na realidade, não era bem um herro. Embora
pudesse estar relacionado à hortografia, era mais uma questão de,
primeiramente, intenção, apesar de intensa. Segundamente, de interpretação.
Aliteração.
Há alguns anos, passava, de
quando em vez, por um templo. Tinha uma tremenda vontade de dar uma alterada na
fachada. Aliterada. Alteradica de nada. Não iria, na realidade, alterar muito –
ou nada - o sentido da coisa. Seria um risquinho só.
Iria tentar uma bolsa Sabesp pra
comprar um spray. Trampo
profissional. Seria jogo rápido. Dois palito. Ou melhor, um palito. Era
só fazer um – apenas um – acento diferencial que, em essência, não faria,
talvez, significativa diferença.
Poderia fazer uma errata. Ou,
então, uma retificação. “Onde consta... leia-se...” Não. Não ficaria legal.
Seria mais legal o acento diferencial: “Igreja o Brasil para Cristo”, ficaria: “Igreja
o Brasil pára Cristo”. Talvez ninguém percebesse. Mesmo porque, só um
desocupado para (ou pára para) prestar atenção à fachada daquela igreja. Ou de
qualquer outra?
Tinha até elaborado o projeto
para a Sabesp. Na verdade, o tema. “A mudança de para para pára: pode um acento
diferencial no para, que será tornado pára, parar Cristo?” Como a maior parte
dos trabalhos embolsados, resultaria em significativas contribuições,
primeiramente, para a ciência; segundamente, para a sociedade de maneira geral.
Afinal, envolvia hortografia. Vinte páginas, espaço duplo coisa e tal...
Mas, aí, veio o acordo – ou
reforma? - ortográfico de países de países de língua portuguesa (preferia
lusófonos: causava boa impressão!) que simplesmente acaba com o acento diferencial.
Reforma é sempre uma forma de reiterar a mesma forma, porém, de forma quase
diferente. Em suma: uma bosta. Seja ela religiosa, econômica, social,
política... Ou mesmo hortográfica!
Naquele caso, a reforma retirara
a única chance de mudar alguma coisa que mexeria com céus e terras. Retirara a
única chance de fazer uma mudança. Mesmo que só de fachada.
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