Numa noite extraordinária dum dia
ordinário, ela, sem nada pra fazer, vai fazer o que sempre faz: agredir acnes e
rosas. Diante do espelho.
Diante do espelho. Procurou,
procurou, procurou e, acnes e rosas, não achou. Mas... mas... mas..., eis que,
de repente, mais que de repente, ela identifica um cabelo branco.
Diante do espelho, estranhamento
total. Não mais [se] reconhecera aquela estranha no espelho. Espelho carrasco,
sincero, atrevido.
“Paradigma indiciário” de que o
tempo é inexorável: passa ou para. Para algumas pessoas. Para. Para outras,
passa. Paradigma conclusivo de que o
tempo pode ser amigo ou inimigo. Depende principalmente da forma como se lida
com ele.
Diante do espelho, lembrou-se do
livro de Sidney Sheldon: “Um estranho no espelho”. No outro dia, comprá-lo-ia. E, novamente, sheldou:
“Se houver amanhã”.
Na certeza incerta, pensou: há de
haver amanhã. Agendaria o primeiro horário no salão de beleza “Martelin d’ouro”
e mandaria reparar aquela avaria na lataria.
Diante do espelho, tivera certeza
de que, doravante, teria de reservar, mensalmente, no parco orçamento, uma
verba para a lanternagem. Mesmo que fosse para reduzir da parte até então destinada
à cesta básica.
Ainda que fosse tratada como uma
questão de aparência, a questão não era conjuntural, mas, de estrutura, de
essência. Era uma questão de raiz.
Raiz que, sem sequer consultá-la,
sem ao menos comunicá-la, sem pedir autorização, resolvera mudar de cor: branco
radical.
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