Algumas
pessoas o taxavam e tachavam-no pirado, encanado, esclerosado e outros
ados, sem contar os rótulos habituais aplicados a quase tod@s: reacionário,
conservador, revisionista, reformista e outros istas.
Mas
a pira não era essa. A pira era fogo. O treco era denso. Sempre encanava que
estava sendo vigiado de perto. Não. Não era pelas naves espaciais da revolução
supraintragalática. Não era pela Rádio Patrulha Ideológica.
Tinha
certeza. Essa desconfiança era confiável. Não estava sendo vigiado pelo M-16,
pelo AK-47 ou pelo AR-15. Estava sendo vigiado, de perto, pelo MRU. Não, não
era o Movimento Revolucionário Unificado ou Universal, mas, sim, pelo
Management of Restaurante Universitário – MRU.
O
nono sentido não falharia. Sempre que coletava restos de carne das bandejas no
RU para preparar as refeições para os cachorrantes, tinha a sensação de que
estava sendo filmado. Quando servia as refeições, idem.
Um dia
fora abordado por um burocrata, que lhe entregara uma intimação ou convocação
para levar um lero com diversos superburocratas da comissão de sindicância,
responsáveis pela boa administração do campus minadus.
Acusação:
apropriar-se de restos de comida para autofavorecimento. Mas a própria filmagem
invalidou esse argumento, pois não estava comendo a comida, mas, sim, servindo
aos cachorrantes, que também não eram seus. Além disso, os latintes [ainda] não
votam, nem mesmo para os colegiados da fefecê, o que excluiria a possibilidade
de troca de comida por votos.
Conversa
vai, conversa vem. Reuniões secretas. Testas franzidas. Cruzares de olhares.
Conversas depédouvido. Queixos para as laterais. Queixos para cima e para
baixo. Anotações.
Alteraram
a acusação: desviar comida de seu destino final e determinado, o lixo, com a
agravante de, com isso, fraudar dolosamente as estatísticas de desperdício de
comida no RU. Tudo é passível de absolvição, exceto fraudar as estatísticas.
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