quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

gedeté


dizia ser ateu
mas adorava marcs
mais que deus [!]
pensava até em fazer um oratório e fundar uma igrejinha
só pra ricos, claro! só universitários! pessoas lindas, bonitas e inteligentes!
gente interessante! adorava ver gente!
a trindade: Marx, Engels e Lênin
haveria também anjos, arcanjos, serafins, querubins
embora fizesse o discurso contra a hierarquia social e a divisão social do trabalho
sonhava em ter uma empregada doméstica charmosa, linda, maravilhosa, mas que não colocasse em risco sua hegemonia sexual no lar-doce-lar
muito embora fosse como certos cristãozinhos letrados que nunca leram a bíblia
dizia-se marxista
mas estava, sem saber, em Hegel
ainda.
não gostava, porém,
de ouvir provocações:
como a de que um conceito é como uma cenoura amarrada à frente de um animal de tiro
apenas pode fazê-lo empenhar-se ainda mais para alcançá-la
porém, quanto mais corre, a cenoura evade-se em velocidade idêntica
falava de uma sociedade de iguais
sem exploração
sem comandantes (exceto a si)
sem comandados (exceto os demais)
sem hierarquia
sem alienação
sem
sem
cem
com
mas...
hora, no fundo, no fundo, no fundo...
queria mesmo é ser difergente
ser topo
ser elite dirigente
vanguarda iluminada
queria
deveria
deve continuar havendo pobres, miseráveis, comandados, marginalizados [marginais do Tietê] e
toda essa escoriazinha
se não,
haverá um senão:
como mostrar para a família (que terá orgulho em dizê-lo!)
como mostrar pros amigos da infância
como mostrar para ex (no plural)
afinal, como mostrar para o mundo:
sou superior! venci na vida!

Ahn? o quê? quanto à revolução?

Ah! ok! viva la revolución! garçon... uma coca-light-revolution e um bigmarx, please! Ahn? oh! gedeté, ouié! petí comitê! proletários do mundo, uni-vos! bem longe de mim, claro!

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