domingo, 30 de abril de 2017

divauta


Cheio dos chavões, era especialista, ganhava a vida ministrando palestras de – dizia ele – autoajuda. Suas palestras de autoajuda eram baseada em releituras de terceiros.

Usava técnicas as mais variadas para se passar por expert, cativar a audiência e conquistar autoridade em diversos aspectos.

Gostava de envolvimento. Sabia como tocar no ponto fulcral da plateia. Não se preocupava com os extremos do gráfico. Queria sempre a média, pois era a média que lhe dava retorno que lhe alimentava a alma: financeiro. O importante era estar na média, atingir a média.

Arrumou a gravata, acertou o microfone e começou:

“Faço questão de olhar nos olhos durante minha palestra. Conversa sincera tem que ser olhos nos olhos. Quero vocês olhando nos meus olhos! Quero que falem comigo com voz firme, em alto e bom tom. Vamos começar com o pé direito, se não... as coisas não dão certo! Quero eu vocês repitam, com empolgação e em voz alta: EU NASCI PARA VENCER! EU NASCI PARA COMANDAR! Repitam!”

Como gostava de chavão e não tinha hábito de refletir sobre o que pensava pensar e falar, não considerava as diversas diversidades funcionais. Afinal, sua preocupação era com a média. Principalmente porque é a média que garante financeiramente a audiência de sua séria comédia.

Considerava suas receitas universais. Achava-se, com certeza, na média, o máximo. 

Moda. Média. Mediana_mente: medíocre.


sábado, 29 de abril de 2017

amem





I

Ele sonha em se casar na praia.
Ela, ser desterrada e enterrada no mar, alto mar, ‘mar adentro’. Desde o ar.
Em cinzas. Em chamas.


I

O mesmo eclesiástico cerimonializa, oficializa:
nascimento, casamento e morrimento.
O dilema é a hora do amém.


III

Oficialmente, tudo se resume a um papel
Que oficializa papeis sociais.


IV

Papel
Papeis
Papiros
Papelotes 



sábado, 22 de abril de 2017

ex-merico






... geralmente, quase sempre, comumente, sempre quase...


Lá estava eu, na 97, com o focinho enfiado nos livros, esfregando a caneta no papel ou brincando de máquina de escrever no notebook...


E, de repente, quase que previsivelmente, ele aparecia com um café à moda antiga (feito na hora no histórico coador de pano) e um pão francês crocante assado com manteiga Avião na frigideira. 


Passados mais uns minutos, quase que previsivelmente, de repente, ele (re)aparecia...


Agora, não mais...






singela homenagem póstum[b]a pru ex-merico.






sexta-feira, 21 de abril de 2017

plansal





Julgava-se superior à média
Assim, julgava-se classe acima da média
Pois tinha um plano privado de saúde privada
Não dependia do SUS.


Nunca pensara muito sobre isso
Até que num dia, ao marcar uma consulta
A atendente perguntou se era particular ou se convênio.


Aí ele percebeu que não era tudo a mesma coisa e, por dedução indutiva, disse que era convênio e apresentou a carteirinha, ao que a atendente respondeu:
Ah! É pela funerária!


Aí ele concluiu:
plano de saúde da pobre dita classe média é...
fundo mútuo!