sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

diálogo com placas


Diálogo com placas
Não era nem por questão de ser ou não ser aceito na sociedade ou em determinados grupos. A rigor, queria distância (não que desejasse o mal) da ampla maioria delas. Vivia um eterno e imortal momento Groucho Marx: “não entro em clubes que me aceitem como sócio”.
Na real, é que há horas que simplesmente não dá, enche a mochila, ficar dando depoimento pr@s deleguinhas e capapretinh@s da vida, ou melhor, a rádio patrulha campusina ou para o “zépovinho” ou, para ficar mais cream de la cream, joseph litle people. Às sempres, falta à essa escória, parcimônia. Certamente não foram ao Canadá. Nem à França. Um café com leite, mer[e]ci. É... estava, há muito, cansado daqueles interrogatórios habituais: por que você isso...? para que você aquilo...? como você... aquiloutro...? você é...? você já...? Paciência tem limite. E curto.
Complicado mais ainda era explicar o inexplicável para pessoas que não queriam entender. Por exemplo, por que se está olhando fixamente para algo que para as pessoas em geral é algo que sequer status de algo tem, portanto, não passível de ser apreciado, menos ainda, de ser objeto de sorrisos.
E esse era um dos principais nós. Por mais que tentava disfarçar, não parecia conseguir. A impressão era de que as pessoas sempre ganhavam o movimento ou estariam, certamente, prestes a descobrir que, à “Janjão, o fortão, e Pinote, o fracote”, estavam seus músculos lisos cerebrais a sorrir, e que fazia um tremendo esforço para não deixar a boca (ou o rosto) sorrir. Afinal, não é muito comum, nem considerado sequer um pouco normal, sorrir para desconhecidos. Não conversar nem sorrir pra estranh@s, já dizia mamãe. Se estranh@s precisarem de ajuda, chame a polícia. Ou a ambulância. Ou o rabecão.
Na biblioteca da FFC, há anos, noiava com aquela placa “Guarda Volume”. Sempre imaginava uma pessoa, uma pessoa gigantesca, cujo nome seria “Volume”, e a função, “Guarda”, e aquela placa como se fosse um des_proporcional crachá: “Guarda Volume”. E a molecada gritando, para irritá-lo: “guarda-volume cabeça de vagalume, cérebro de estrume”.
Xá pra lá essa história. Protrafita.
Outra fita que o fazia rir [de raiva] eram aquel@s serv@s públic@s (ou melhor, estatais), que colavam aquelas plaquinhas para intimidar os públicos: ‘desacatar funcionário público no exercício de suas funções, blablabla, pena: cana!’ Bandotári@s! Por que não esfregavam essa plaquinha na fuça dos chefes de executivos e nos salafrários do legislativo, que insistiam em desdenhar e desacatar @s funças estatais. Bando de covardes, só eram fortes com os fracos. Gargalhava consigo mesmo: tem mais é qui sifu dê. Maginô se @s funças maginassem pensação?
Outra treta que tinha: aquelas placas que gritavam: “proibida a entrada de pessoas estranhas”. Cada cara esquisit@ que entrava nos reservados que, à “O alienista”, ficava a pensar: será que, ali, estranh@s eram tod@s aquel@s que não eram esquisit@s que nem el@s? Afinal, “de perto, ninguém é normal”.
Grilava também com aquelas placas de ‘achados e perdidos’. Era mó treta. Ora, hora (et labora): o critério indispensável para que algo seja ‘achado’ é que esse algo ‘achado’ tenha, antes mesmo de ter sido ‘achado’, ‘perdido’. Na realidade, essas caixas só deveriam ser chamadas de ‘achados’, pois, uma vez achado, algo já não mais éstá ‘perdido’, exceto que não devolvido ou não encontrado por quem o perdeu, mas, de qualquer forma, é um perdido-achado-não-entregue. Tentara dialogar com a administradora da caixa, mas não deu liga. Ela disse que tais questionamentos não eram normais, que ou precisa de tratamento psiquiátrico, psicológico, mental, espiritual, religioso, moral.
Ficou tremendamente engrilado. Será mesmo que não será normal? Era normal não ser normal? Era incomum a anormalidade? Será que seria só ele que tinha esses pensamentozinhos incognoscíveis-não-cognoscentes? E se as pessoas soubessem que ele ria por dentro e pensava coisas esquisitas? E se as pessoas soubessem que ele mesmo tinha dúvidas sobre a_normalidade ou não de ser inormal.
Pensou em procurar tratamento, mas, e se começasse a dar risadas in_voluntárias e in_controláveis diante d@s psialguma-coisa? Aí o treco desandaria. Seria camisa-de-força na certa, no ato. Passou a ter medo de si mesmo. Afinal, era um pato-lógico. Um risco, porém, social. Será que o Morceguinho tinha ganhado essa fita e, espontaneamente, dera um perdido?
Foi na fotoreprodutora. Embora não houvesse uma placa de achados e perdidos, lá sempre havia achados e perdidos. Mais estes do que aqueles. Ao menos não tinha aquela placa proibindo a entrada de gente estranha. Afinal, se ela existisse e fosse respeitada rigorosamente, não haveria nem clientes, nem dono, menos ainda, funcionári@s.
Esperou paciente e ordeiramente na fila, até que, finalmente chegou sua vez. Foi atendido por uma pessoa que, se não era estranha, esquisita, também não era normal aquelas coisas, não. Não obstantes os trejeitos ou hábitos aristocratas, ela... sabe-se lá. De errado com ela algo havia. E, se não havia, de haver, prestemente, haveria.
Enquanto a atendente fazia a busca da “Introdução à crítica da economia política”, a tipo começa a viajar na transação e, em determinado momento, os músculos do encéfalo falaram mais alto que os rostais. Aí, não teve jeito de disfarçar. A mina, cubando o teto, defronte ao computador, sem nada que, em condições normais, justificasse e legitimasse sua risada, in_voluntária, teve de se explicar pro esxtranho do outro lado do balcão, se não, poderia pegar mal. Ela mal sabia que, naquele caso, seria nor-mal. Se ela soubesse a quem atendia, chamaria a puliça.
Mas, constrangilda, indica a placa pendurada no teto, toda suja (a placa!) de algo que algum dia foi toner (que não é o Beloto): “Respeite a Fila”. Mó pira a mina. Começou com umas idéias tão noiadas que não só devolveu ao estranho a sensação de normal, como o fez temê-la.
Meu, as fitas dele, ao menos num plano lógico-formal, tinham algum ou todo sentido. Premissa maior, premissa menor, silogismo. Isto X, aquilo Y, logo, XYZ. Mas, saca a pira da mina. Ela viajava na transação tipo: “Respeite a Vila”. Mano, isso era TDAH, TDHA, TGD, AVE, AVC e mais um pouco, tudo junto. Não tinha como ter algo a ver. F é F, V é V. Nem homófona, nem parecigráfica. Se a treta fosse entre, por exemplo, respeite a bila e ela lesse respeite a vila, ainda iria, mas, aquela fita, já passava dos limites. Afinal, loucura também tem seus limites. Ou indeveria ter. Mesmo porque, contagiante pode ser.
E foi. As idéias trocadas foram proliferadas-proliferantes. Quantos formatos e significados aquilo poderia tomar, bastando apenas pequenas alterações de grandes (re)interpretações:
Respeite a Fila, diz a placa. Há placa, diz: Respeite a Fila. Respeite-a, Fila. Respeite a fila. Poderia respeitar só a fila, e não as pessoas que estão-são a fila. Respeite, há fila. Respeito é bom e a fila gosta. Respeite, afhhh!, [que] fila! Dia de entrega de trabalho, mó pressa, mó neura, mó fila. Uma funça só, máquina quebrada, papel enroscado, toner beloto acabado. Do rabo da bicha para a proa, pergunta-se a cada pessoa: seu nome é Fila? e, diante das negativas, ignora-se a fila e fura-se a fila, afinal, diz a placa: “Respeite a Fila”. Como a Fila não está presente, não há ninguém a ser respeitad@. Uma cachorra, toda cachorrona, dorme, bem no leito carroçável da fila. Um@ human@zinh@, ridícul@, autocentrad@ e antropocêntric@, dá uma bica na canina e aponta para a saída. A cadela, que é Fila, aponta para a placa e, segura, volta a dormir: “Respeite a Fila”.
Bom, neste momento, este que estas escreve, sem se dar conta, está na fila de um hospital psiquiátrico. Uma “casa verde”, denominada “Casa de Orates”, mais conhecida como “Vila de Loucos”. Há uma fila enorme. Não sabia que havia tanta loucura numa soça aparentemente tão normal. É o último da fila. Pensa: se ficar de costa, logo, será o primeiro da fila. Mal acabara de fazê-lo, ou melhor, de pensá-lo, uma voz – da recepcionista – com designer de fotoreprodução, diz: “Respeite a Vila”. Nas mãos dela, um livro: “Diálogo com placas”.

qéh páhssa


Tem hora que parece
                   Quepa reço
Que todos os [os milhões de] rostos – ou caras? – me são fá_mi_lhares
                                                                           Ao mesmo tempo, tão estranhos!
O mundo, como, se estivesse de cabeça pra baixo -
                                                           ou seria pra cima mesmo? E, exatamente por isso...
- pra baixo da cabeça o mundo, ih!, mundo.
Estranho, estranha,
Me estranho, me estranha: Testragño!
Do esterno, externo, eterno, pras entranhas.
De cabeça pra baixo
Sou estranho
Soo estraño      
Na multidão, sinto-me, oprimido, até
Suo, extragno.
De cabeça pra cima, também.

nau tural


Na sociedade do controle hardcore, fla[u]tulências, por quaisquer das extremidades, terão cores e aromas personalizados para que pessoas possam se[r] mostrar diferenciadas e personificadas até nos máximos detalhes. Afinal, flatulências pertencem a quem flatula: propriedade privada. Tudo naturamente natural.

xá pinha


pra cabelos não-escorridos? xá pinha

pruma ortodoxia-fundamentalista-heterodoxa: Xá Piña

pralma vida ente_di_ante: Chapinha (R).

tu-na


Tudo o que quero é o nada
E o nada
O que
Que eu quero
?
É ... tudo pra mim.