sexta-feira, 30 de março de 2012

acento diferencial


Achava o maior barato analisar aquelas fachadas com erros. Alguns davam margem a interpretações mil. Seriam herros mesmo? Propositais? Capciosos? Ou seriam probleminhas de hortografia. Sim. Apenas um probleminha de hortografia, sem maiores conseqüências.

Muitas vezes, tinha mais dúvidas do que incertezas. Mas havia um herro a respeito do qual tinha certeza. Ou pelo menos pensava que tinha. Mas, na realidade, não era bem um herro. Embora pudesse estar relacionado à hortografia, era mais uma questão de, primeiramente, intenção, apesar de intensa. Segundamente, de interpretação. Aliteração.

Há alguns anos, passava, de quando em vez, por um templo. Tinha uma tremenda vontade de dar uma alterada na fachada. Aliterada. Alteradica de nada. Não iria, na realidade, alterar muito – ou nada - o sentido da coisa. Seria um risquinho só.

Iria tentar uma bolsa Sabesp pra comprar um spray. Trampo profissional. Seria jogo rápido. Dois palito. Ou melhor, um palito. Era só fazer um – apenas um – acento diferencial que, em essência, não faria, talvez, significativa diferença.

Poderia fazer uma errata. Ou, então, uma retificação. “Onde consta... leia-se...” Não. Não ficaria legal. Seria mais legal o acento diferencial: “Igreja o Brasil para Cristo”, ficaria: “Igreja o Brasil pára Cristo”. Talvez ninguém percebesse. Mesmo porque, só um desocupado para (ou pára para) prestar atenção à fachada daquela igreja. Ou de qualquer outra?

Tinha até elaborado o projeto para a Sabesp. Na verdade, o tema. “A mudança de para para pára: pode um acento diferencial no para, que será tornado pára, parar Cristo?” Como a maior parte dos trabalhos embolsados, resultaria em significativas contribuições, primeiramente, para a ciência; segundamente, para a sociedade de maneira geral. Afinal, envolvia hortografia. Vinte páginas, espaço duplo coisa e tal...

Mas, aí, veio o acordo – ou reforma? - ortográfico de países de países de língua portuguesa (preferia lusófonos: causava boa impressão!) que simplesmente acaba com o acento diferencial. Reforma é sempre uma forma de reiterar a mesma forma, porém, de forma quase diferente. Em suma: uma bosta. Seja ela religiosa, econômica, social, política... Ou mesmo hortográfica!

Naquele caso, a reforma retirara a única chance de mudar alguma coisa que mexeria com céus e terras. Retirara a única chance de fazer uma mudança. Mesmo que só de fachada.

sode


De manhã, tão amargo, tão azedo, como o acordar bastante cedo, em tempo de bem frio.
O ex-leitinho, jacquagliado, sobe pelo ex-ôfago, chega à garganta, profunda, quase ao paladar.
O rosto não se contém, até porquê, o ex-leitinho corta como cio uma navalha no fio.
Uma lady-física: quase tudo o que desce tem_de [a] descer.
Prova? Observar, logo pela manhã, rostos aflitos com o retorno da via láctea cafetina.
Só de pensar em imaginar... já sinto o azedinho amargo minha garganta como uma navalha cortar.

cá minhos


Carros. Motos. Charretes. Cigarretes. [...] [...] Bicicletas. Carroças. Skates. Ônibus. Caminhões.
Por caminhos congestionados, encaminháveis.
Pedestres, cachorros, circunspectos, decididos, resolutos.
Todos a caminho. Mas, há caminho pra todos?
De algum lugar pra lugar algum. Nenhum. D’algum lugar pr’um não-lugar.
Ou para lugares outros, lugares lúgubres.

bootoo


Da transmicção de conhecimento
ou
Do transmimento de conhecessão.
Eis o que seria o que era pra ser la questión.
Ler dava muito trabalho.
Estudar, mais ainda.
Entender, ainda mais.
Compreender, jamás.
Pra que perder tempo com uma metodologia antiga, primitiva, arcaica, de aprendimento?
Aprender por osmose seria inviável pela própria implicação conceitual: equilíbrio do conhecimento. Alguém ganharia. Outralguém perderia. “Osmozzy”, tava mais pra nome de bandeca de bronzemétal boqueta! Uma ideia tanto quanto extemporânea.
Pensou. Pensou. Pensou. Simprensou.
Haveria de haver alguma forma de (re)distribuição, de socialização do conhecimento, sem necessariamente ocorrer a desconcentração. E de forma prática, rápida, indolor, sem esforço, afinal, todo mundo teria de ter “direito à preguiça”.
Tempo pra ler implica tempo para outras coisas perder.
Aí veio a ideia. Instalar bluetooth na pensante de todo mundo. Bluetooth nos livros, nas revistas, nos textos todos. Blootoo em tudo, até no tu, ou melhor, em tu.
Aí bastaria parear, liberar a transação e já era. Agora, poderia ser alguém chei@ de conhecimento, sem estuda nenhum pouco.
Sempre tivera certeza de que a tecnologia resolveria os problemas da educação.
Viva um novo tempo em educação. Vivastic! Viva a metodologia bootoo de leitura. Infalível.
Download free.

diesel


Inédito
Não dito
Regras,
ditador@!
Não dizido - indizido
Inedito
Indito
Indizível
Será que um dia
Será, dito
Seral, o benecitus?
Induzido?

traga


Aguarde!
Aguarda? O quê?
A guarda!
Que guarda?
[O que a guarda guarda?]
A vã.
Por quê?
Porque, como o próprio nome diz, é vanguarda que vai na frente?
Mesmo quando não há ninguém atrás?
]quando não há ninguém, há traz[

experiência própia


Julga[va]-se com autoridade-autoritária para falar sobre miséria, fome e outras coisas de pobre, pois, por uma semana, fora mendig@ nas ruas marilianas, implorando umas moedinhas no trote universiotário, pra tomá umas burregas dispois.
Tivera a oportunidade de se sentir protagonista principal do filma “Droga de Vida”. Agora, já podia discursar, citando Carlos Marques, nas aulas de sociologia no curso de Ciências Sociais.
Já podia falar de e não mais apenas sobre fome, miséria, proletariado e outras coisas interessantes e exóticas. Só se sentia ultrajad@, ofendid@ etc. quando, em sala de aula ou nos corredores, alguéns, ao por el@ passar, cantava Tom Zé: “Classe operária”.
A única coisa que ainda o incomodava é que ainda não conseguia perceber a diferença entre uma Carteira de Trabalho e Previdência Social e um Passaporte. Este, (re)conhecia desde tenra idade; daquela, evita chegar perto, pois tem alergia a coisas inerentes ao lumpem proletariado.
Até acha glamouroso bancar o franciscan@-operári@ nas festas da fêfêcê, mas, como no trote universiotário, apenas por algumas horas, e em caráter lúdico, artístico. Pena que a Dízel não fabrica macacão, botina bico-de-aço, óculos e capacete de operário. Já pensô?