segunda-feira, 30 de junho de 2014

salhas

Ela foi ao circo. Pela primeira vez. Na vida... última, quem sabe_rá? Da sua casa, tão perto, ao mesmo tempo, tão longe: torres com luzes mágicas, mesmo não sendo neon.
Na primeira fileira sentou-se. Tudo era tão fantástico, ao mesmo tão real... que até chegava a surreal ser. Até parecia que aquilo ali ocorria a vida e, lá fora, seria a encenação de um simulacro mórbido-tripalium-vital. Dentro, comédia, fora, a tragédia. Na zona lindeira, a tragicomédia (ou a comitragédia?).
Ficou encantada com tudo, especialmente com o palhaço que, por apenas um ingresso, fazia todo (o) mundo feliz, ainda que durante o espetáculo, apenas.
Decidira que quereria de presente de natal um palhaço e uma palhaça para que eles fizessem palhacinhos em série, produção em larga escala.
Recorreria a inseminações artificinaturais, faria clonotriplicagens, usaria e abusaria dos milagres da cibergenética. Produziria palhaç@s até atingir, no mínimo, a proporção de uma unidade para cada pessoa do universo. Até porque todo mundo tem direito a, no mínimo, um@ palhaç@.
Faria um PAC_to dá_felicidade. Tod@s pela felicidade. Nenhuma pessoa fora da felicidade. Planeta rico é um país com todas as pessoas sem infelicidades. Criaria o bolsa-felicidade. Aofinal, felicidade é o que interessa; o resto {(nóis)[ou](nos)acessa}.
Assim, ninguém precisaria mais ficarsendoestando infeliz, triste pelos cantos, meios e fins, algures, alhures, confins. Até as barbidondocas seriam felizes.
Combateria o alto índice de infelicidade. Faria a redistribuição social da felicidade. Ninguém mais precisaria prozacar-se, psiquiatrar-se, psicologizar-se, nem usar máscaras de comédia para ocultar a cara de tragédias. Os resultados seriam imediatos, já no próximo PNAD.
Acabou o espetáculo: salvas de palmas anunciaram o fim. O palco ficou vazio. A luz apagada foi. Até o silêncio calou-se-a.
Ela não queria sair daquele lugar mágico. Ao ser convivocada a se retirar do templo da alegria (ou da felicidade?), que já escuro estava, viu o palhaço num canto a chorar.
‘Um homem chorar, até que vai, afinal, não passa de um humanomen, mas, ... um palhaço, meu palhaço chorando?, in-con-ce-bí- vel! Simplesmente in--con---ce----bí----- vel!!!’
Preferiu acreditar que o palhaço estava, numa encenanação em clave trágica, chorando porque todo mundo, ou melhor, porque ela, a última pessoa do ex-petáculo, estava indo embora.

Mas, ficou a pensar: como poderia um palhaço ser um ser triste, ainda que por ún_ico momento? Não haveria circo para palhaços, palhaços especializados em palhaçadas para palhaços?

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