domingo, 28 de junho de 2015

seven

cansado de levar uma vida de cão
o gato resolvera suicidar
- a quem?
há quem diga que a si próprio, mesmo
tentou. não deu certo.
ficou triste. Ouviu Raul: tente outra vez
Tentou novamente. Nada.
ficou triste. Ouviu Raul: tente outra vez
Tentou mais uma vez.
ficou triste. Ouviu Raul: tente outra vez
Tentou de novo.
ficou triste. Ouviu Raul: tente outra vez
Tentou novamente.
ficou triste. Ouviu Raul: tente outra vez
Tentou outra vez. Neca!


Catou o vinil LP do Raul e passou a utilizá-lo como peinico. Autoajuda, força do pensamento e nem mesmo a ação estão me ajudando, pensou. Quantas vezes tentei e nada! É um sinal. É minha sina: condenado a viver. Viver como um cão de madame: indo no cabeleireiro, no psicólogo, no sexólogo, na escola, na igreja, nos supermercados e nos shoppings e tendo que aturar aquela gentinha joseph_litle_people, nojenta, asquerosa, impertinente, petulante, arrogante, que se julgam bonitas, inteligentes, superiores e tentam fazer, de seus cachorros e gatos, a própria imagem e semelhança. Imaginar que naquela mesma noite teria que passear com aqueles humanoidezinhos fez com que ele feniqasse, se levantasse e tentasse outra vez, não mais a última vez, mas quantas vezes necessário fosse. Entrou na privada, deu descarga e morreu afogado na literal merda material humana, que era péssima, mas era menos pior do que a merda da material-simbólica-sociabilidade humânica. Enquanto escorria pelos tubos do esgoto do prédio, pensava: Sete é um número perfeito. Setenta vezes sete, então...! Sete é meu número de sorte. Qual será que seria o próximo set? Se fosse para voltar pro mundo dos humanos, preferiria (re)voltar sempre natimorto. Sofrimento e resignação têm limite. Os dele ultrapassaram. O-limite.

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