sábado, 28 de março de 2020

extrapaphúrdyo












Numa calçada qualquer da praça central de uma ordinária cidade do sul do Mato Grosso do Sul, ocorre um encontro de corpos: uma cara, que acaba de descer do carro para saborear um pastel, e um cara, que, aparentemente, estava tentando levantar uns cobres.

O cara, na mó moral e simpatia, pediu-lhe, sem metáforas, sem palavras pela metade e em clave de “sincericídio”, um troco pra comprar um etanol potável. Talvez para tornar o pernoite na praça menos cabuloso.

Com aquela sua habitual saída pela tangente, ela respondeu que não tinha “dinheiro em espécie”, coisa e tal etc., que só usava cartão e, com aquele jeitinho de sempre, deu um suave perdido no mano, que, simpaticamente, agradeceu e continuou sua itinerante expedição em busca dos cobres. Um tipo de cara que sabe chegar, ser_estar e sair, tudo na mó moralzinha.

Dezenas de minutos depois, ocorre um casual reencontro dess@s sujeit@s, porém, desta vez, num semáforo, nas imediações do local do primeiro encontro.

O cara, que aparentemente continuava tentando arrecadar uns trocados, reconheceu a interlocutora e, com as mesmas simpatia e moral de outrora, fez sinal para ela parar o carro e baixar o vidro. Pedido de dinheiro novamente? Não! Ele somente quis agradecer pelo fato de ela tê-lo “tratado como gente”.

Talvez esse tenha sido um dos agradecimentos mais extemporâneos que ela tenha, por ora, recebido nesta balzaquiana vida: uma pessoa, gente, agradecer a uma outra pessoa, gente, por ter sido tratada “como gente”.

O que custou para ela apenas não tê-lo destratado? O que significou, para ele, o simples fato de ter sido “tratado como gente”?

Talvez, seguramente, uma história por e para ser contada, de maneira oral ou escrita.









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