quinta-feira, 4 de setembro de 2014

donaprepa

ON THE PEPA – Onde está Pepa?

Era uma gata aparentemente feliz, realizada. Tinha a promessa de uma carreira promissora, tinha tudo para dar certo na vida: um excelente lar, uma excelente educação.

Estava estudando informática, inglês, mandarim e humanês. Provavelmente seria gatora propaganda de produtos de primeira linha para gatos-felinos de classe AAA. Pet shop é o que há, diz o profissional trainer.

Mas, num bellum dia, sem mais, talvez nem menos, sem sequer um bilhete colado na geladeira, na lixeira ou na porta do banheiro deixar, ela some-se, se consome.

Passado um dia: tudo bem... gato é assim mesmo, é errante [diferentemente de humanoides, que vivem a errar]. Ela volta. Ela voltará, quando a fome bater. Alguns faziam até analogia com a parábola do filho pródigo.

Mas, passados vários dias, ela não voltou. Tim Maia explicaria? ‘... Ela partiu e nunca mais voltou...’ Teria ido à Exapit pensando que seria uma exposição da Pitty (ela gostava muito de ‘Máscara’ e de ‘Sete_vidas’)? Teria ido embora com a trupe do circo?

Ligaram nas delegacias de pulícia, no conselho tutelante, na roda dos expostos, nos hospitais, inclusive psiquiátricos. Nada!

Ao ficar sabendo do fato, uma parte da vizinhança – tipo aquela vizinhança mostrada em ‘Eduardo mãos de tesoura’ – deblateram, cada um soltando uma:

- Ah!, eu sempre desconfiei daquela gata! algo nela não me deixava enganar!
- Aquela gata não me cheirava bem! e não era pelo que ela fazia, mas pelo que ela não fazia!

- O que tem que ser já nasce!

- Gato? gato é do mal, é do satanais... minha bisa sempre dizia!
- Aquele olhar dela não me enganava!

- E o jeito de ela mexer as orelhas!? O corpo fala!!! E como fala! Eu sabia! Eu sempre soube!

- Até o jeitão de andar dela já denunciava! ela andava tipo maloqueira!

- Ah!, ela tinha problemas bio-psiqo-ANTI-social! Tinha! Isso tinha!

- Era bipolar: ora dormia, ora acordava! Era aprendiz nata de psiqopata! Tinha esquisitofrenia!

- Também... pudera... não tinha religião!

- Não dava bom dia aos vizinhos!

- Não respeitava as placas de proibido animais!

- Não tinha carteira assinada!

- Não gostava de samba!

Alguém, habilidoso em patrulhar a vida alheia, sugeriu um vasculho na vida pregressa digital da meliante. Tirequeda!

Dias antes de sumir ela tinha adicionado, no orqut, um cachorro que atendia pela alcunha Cadelo.

Dias antes ela havia assistido ‘Diários de motocicleta’ e ‘Sem destino’.

Dias atrás acabara de ler ‘Pé na estrada’.

As Rotativas hiperativas ambulantes retomam os impropérios:

- Tá explicado!

- Não disse!
- Pudera!

- São as más companhias!

- Diga-me com quem não anda que te digo quem não é!

- É esse tal de iorqute!

- Bom... eu sempre desconfiei daquela gata, antes mesmo de ela nascer!

- Eu também! Não falei nada pra não chatear ninguém, mas...

Dona Quietina, a menos insensata das rotativas hiperativas ambulantes, ajeitou a dentadura e disse:

- Exceto que ela tenhésse tendência suicida (Durkheim explica) ou tenha sido assassinada, ela está viva. Afinal, gato tem sete vidas. Vamos aguardar... o que tiver que ser ... pode ser que seja, pode ser que será. Será? Rousseau tinha razão, ao menos em parte: os gatos nascem gatos, mas os humanos os estragam, humanizando-os!

O agente da lei vibrou com a primeira parte informação, ainda que discordasse veementemente da parte segunda e da parte dizente:

- Então tenho chances de prendê-la para que o Estado faça a reeducação dela e o caso sirva de exemplo! Poderei aparecer no noticiário: “Pensa no seguinte..., corta pra mim...”


Larilálá, que ainda não havia sito tornada [aquele tipo de] gente grande, lembrou do finado Russo, o Renato: mundo estranho com gentes esquisitas, esquisitíssimas, esquisitérrimas! Esquisitas na acepção brasileira do termo! Bizarras!

Não... não era etnocentrismo... era realismo hipersurreal. Ficou preocupada: Será que um dia necessariamente terei que ser assim? Deus me livre de mim assim!

Preferiu ficar com Dona Quietina: ‘Vamos aguardar... o que tiver que ser ... pode ser que seja, pode ser que será. Será?’

E continuou a pintar o cartaz. Em vez do habitual ‘procura-se um gato...’ escreveu apenas: Pepa, volte! Volte, Pepa!

Pensando bem, se Pepa estivesse aqui jogaria terra sobre todas essas rotativas, vivas. Afinal, tolerância tem limites, bem de_limitados.



No rádio o locutor anuncia a próxima música na programação da éfeême bocasmexeriqueiras: ‘A dois passos do paraíso’. E a puliça está fazendo, neste momento, uma Blitz!


Será que Pepita estava com receio de ser de/di_lapidada?

ON THE PEPA – Onde está Pepa?
‘On the road’
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‘On the road’

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