quinta-feira, 1 de setembro de 2016

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I
Dono de uma rede de supermercados, considerava-se – não um, mas – o exemplo de sucesso, o legítimo e verdadeiro espécime de determinação e de empreendedorismo. Era um ardoroso, incansável, incorrigível defensor das “liberdades individuais incondicionais”, do “livre mercado”, da “livre concorrência”, condições que, para ele, eram única possibilidade de redenção, de civilização, de sociabilidade, de... de... de. Assim, era contra a intervenção do Estado, aquela “pesada e antiquada máquina burocrática” na vida dos indivíduos, na vida da “sociedade civil”, porque o Estado atrapalhava o direito “natural” de “liberdade” de organização e de negociação entre indivíduos “plenamente livres”.

II
Um dia, uma economicamente pobre mulher, alheia às determinações do “Estado castrador de empreendedores”, resolvera vender peixes próximo ao supermercado dele. “Peixe fresco e barato!” “Direto do pescadô ao consumidô!” “Eu mesma pesquei!” “Qualidade garantida!” “Pode chegar, freguesia! Traz o dinheiro e a bacia! Alimento saudável e muita economia!”

III
Foi sucesso total. Tava até pintando convites pra ela fazer locução de rodeios, mas ela era defensora dos direitos dos animais. Ela cativou muitos clientes. “Cliente satisfeito, volta garantida!” “Atendemos bem para atendermos sempre!”

IV
Ele, defensor incondicional da livre concorrência, achou que aquilo era “concorrência desleal”. Recorreu ao “Estado interventor” para que aquela “peixeira” fosse proibida de continuar vendendo peixes nas proximidades do supermercado dele, ou melhor, na “rua dele”, praticando “concorrência desleal”. A “livre concorrência” interessava-lhe apenas quando resultava em benefícios para ele. Afinal, “livre mercado” tem limites.  

X
Afinal...
infiliz

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