quinta-feira, 24 de novembro de 2016

caousso




No começo, como quase todo começo, era mil maravilhas. Ele, “seu dono”, separava antecipadamente um tantão de comida pra ela, a cadela.


Depois, passado algum tempo, ele lhe dava um resto. Meio com dó, mas dava, principalmente aquelas partes inservíveis, como, por exemplo, os ossos.


Depois, os ossos passaram a lhe ser jogados apenas após totalmente desprovidos de quaisquer resquícios de tecidos não ósseos.


Depois, já não mais ganhava nada, sequer ossos. Teve que ir atrás da própria comida.


Depois, a comida que ela conseguia passou a ser expropriada por ele.
Ela achou estranho, mas decidiu que era a vez de ela ser a provedora. Mas, chegou um dia que ele, sem titubear, mordeu a orelha dela para roubar um pedaço de rato que ela havia 'negociado' com um gato.


Foi o estopim. Entrou em estado de alerta púrpura. Já não mais dormia tranquilamente. Tinha que ficar, permanentemente, com dois no gato e dois no peixe. Mas, quase tudo na vida tem seu limite. 


Uma noite ela não resistiu e caiu no sono. Estaria ela ainda viva? Tivera um sonho horrível! Acordou assustada. Ficou ainda mais assustada com o olhar dele para ela! Estaria ele pensando em utilizá-la para se reproduzir ou para reproduzir a própria-dele vida? 


Pensou bem e inconcluiu: esse papo de que o cachorro é o melhor amigo do homem, por diversas razões, não cabia pra ela Afinal, era o cachorro e não ela, a cadela. De vocação para mártir nada tinha ela. Questão de gênero, número e graal... de (in)sanidade mentau. Deu cachorro loco. Não estava a fim de ser mote de diálogo para os ‘irmãos das almas’.

Nenhum comentário:

Postar um comentário