sábado, 24 de dezembro de 2016

atvsta




Ele era um ativista fervoroso da luta contra o trabalho infantil, não interessa de que espécie seja ou fosse. Militava em prol da responsabilidade social, da responsabilidade cidadã, da ética empresarial e outras causas nobres.

Movia céus e terras em prol do que acreditava. Dizia que a práxis era a medida de todas as coisas. De nada adianta teoria sem prática condizente, deblaterava.

Quando sabia de algo, envolvia a imprensa, denunciava ao Ministério Público e, se fosse necessário, ia até o Conselho de Segurança da ONU, ao Tribunal Pena Internacional. Era do time da legalidade, do cumpra-se a lei a qualquer custo. Quanto a isso, não transigia.

Sua “empregada doméstica”, que sequer “registro em carteira” tinha, saía de casa todos os dias da semana às 5 da matina e voltava às oito da noite. Deixava seus quatro filhos de tenra idade aos cuidados da filha mais velha, de 11 anos, que era a responsável total pela casa durante a ausência da mãe. Quando a mais velha ia para a escola, assumia o posto a mais velha naquele período: nove anos.

Questionado quanto a esse fato e sobre a sua posição, o ativista limita-se a responder: “É a vida!... Cada um se vira como pode! C’est la vie! A práxis tem seus limites! Não se pode ser mais realista que a rainha! God save the queen!”

Para ele, naquele momento festivo, de celebração, paz, harmonia, amor e união, tudo o que interessa é ... “QUE HORAS ELA VOLTA”???. Afinal, é véspera de natal. Quem vem fazer o serviço sujo?

Já pra ela, que estava no batente desde as seis da matina, só interessa, inversamente, saber ... o horário que ela vai! Mas era só um sonho. O demônio do despertador começa a berrar em caixa alta: “4:l5! 4:15! 4:15!” É hora de pular da cama e rapar pro trampo, mesmo sendo véspera de natal. Afinal, quem é que vai fazer o serviço sujo na véspera e no natal... não será o Doug Funnie! E repetiu pro seu vira-lata-bana-rabo o que sempre ouve do patrão: “É a vida!... Cada um se vira como pode! C’est la vie!” O rádio irradia Gonzaguinha “Comportamento geral”. Coincidências...  

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