segunda-feira, 12 de março de 2018

osnósossosqueacáestamos





[1]Ele passou, oficialmente, a ser o oficial do cemitério local.

Já tinha trabalhado, em diversas ocasiões, como oficial. Mas, agora, era, oficialmente, oficial. Oficial, oficialmente.

Quantos sepultamentos? Quantas exumações? Renascimentos?

Sobre quantas histórias, tristes ou alegres, colocaria uma pedra em cima?

Encontros. Desencontros. Despedidas. Reencontros...

Quantas histórias contadas, cantadas, choradas, sorridas, silenciadas?

Histórias morbidamente cheias de vida... Histórias vividamente plenas, de morte...

Quantas histórias viveria? Quantas vivenciaria? Quantas experimentaria? 
Quantas presenciaria? Quantas ouviria? Quantas haveria? 
Quantas contaria? Contaria? 
Contaria?

Escreveria algumas histórias? De todos? Todas? De alguns?

Que interessante seria contar, por escrito, as histórias que provavelmente ele contará, de forma oral... 
Isso daria (mais) vida à história de muitos mortos.

Ao escrever sua primeira história sobre mortos, paradoxalmente, escreveria a primeira história sobre parte da (sua) vida.
Como oficial, oficialmente, do cemitério local.



[1] Dedicado a Z´K. Simultaneamente, por extensão, um singelo e despretensioso tributo a essa categoria de trabalhador@s, quase sempre presente em um momento tão indelicado.





2 comentários:

  1. Cemitério,lugar onde esconde os sonhos, onde choram as vidas mal aproveitadas ou mal vividadas lugar onde choramos de saudades de remorso ou de ausência até mesmo por inversão de valores. viva cada conquista de valor a cada segundo porque quando a pedra baixar ali ficará todos os sonhos enterrados.ficaram apenas lembrenças.

    ResponderExcluir