sábado, 28 de abril de 2012

brânquea mento


Numa noite extraordinária dum dia ordinário, ela, sem nada pra fazer, vai fazer o que sempre faz: agredir acnes e rosas. Diante do espelho.
Diante do espelho. Procurou, procurou, procurou e, acnes e rosas, não achou. Mas... mas... mas..., eis que, de repente, mais que de repente, ela identifica um cabelo branco.
Diante do espelho, estranhamento total. Não mais [se] reconhecera aquela estranha no espelho. Espelho carrasco, sincero, atrevido.
“Paradigma indiciário” de que o tempo é inexorável: passa ou para. Para algumas pessoas. Para. Para outras, passa. Paradigma conclusivo de que o tempo pode ser amigo ou inimigo. Depende principalmente da forma como se lida com ele.
Diante do espelho, lembrou-se do livro de Sidney Sheldon: “Um estranho no espelho”.  No outro dia, comprá-lo-ia. E, novamente, sheldou: “Se houver amanhã”.
Na certeza incerta, pensou: há de haver amanhã. Agendaria o primeiro horário no salão de beleza “Martelin d’ouro” e mandaria reparar aquela avaria na lataria.
Diante do espelho, tivera certeza de que, doravante, teria de reservar, mensalmente, no parco orçamento, uma verba para a lanternagem. Mesmo que fosse para reduzir da parte até então destinada à cesta básica.
Ainda que fosse tratada como uma questão de aparência, a questão não era conjuntural, mas, de estrutura, de essência. Era uma questão de raiz.
Raiz que, sem sequer consultá-la, sem ao menos comunicá-la, sem pedir autorização, resolvera mudar de cor: branco radical.



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