sábado, 22 de fevereiro de 2014

tradiça

I
Sábado de manhã. Manhoso. Chuvoso. Dois caras, hipermasculobombados, tentam dobrar uma lona de caminhão. Todos fortões, marombosos, cheios de tatoos agressas, camisetas pretas encaveiradas, botinas e braceletes metalizados. A chuva que torrenciava deixava a lona mais pesada e difícil de manusear.

II
Os dois marombex pareciam ter uma relação muito próxima, pareciam sintonizados, apesar da assincronia na dobra da lona.
– Pra cá, bem!
– Não, bem, mais pra lá, bem!
– Bem, prestenção, bem!
– O bem, não é assim, bem! será que eu vou ter que segurar na sua mão e te mostrar como fazer direito isso?

III
Dentro do carro, um cabra, que aguardava a abertura do comércio, irritou-se com aquela pederice em plena avenida. Aquilo era uma pouca vergonha, pensara. Era mau exemplo pra sociedade. Iria ensinar aqueles tipinhos a serem machos. Era só matar um que o outro aprenderia a lição. Como não sabia quem era quem n’atividade, escolheu um aleatoriamente e puxou o dedo: em nome da tradição, da pátria e da família. Julgara-se preposto da Providência, enviado para fazer a justiça:
BUM!

IV
Delbenson, o Ben, casado, monogâmico, pai de três filhos, homem honrado, honesto, trabalhador, não mais poderia curtir seu heavy metal do Senhor. Morto em nome da tradição, deixou a família desfalcada e foi morar na pátria que saiu.

V

Tradições!

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