sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

hanoom





Ano novo. Tradicionalmente, pedidos de “boas festas”, “ano bom” e outras expressões sinônimas de: “me dá um trocado”, às vezes complementados com explicativas do provável ou possível uso do dinheiro.

Quando alguém lhe pedia um “trocado”, ela tinha vontade de dar um trocado de direita, mas não o fazia por questões higienistas.

Era tradição. Era tradicional.

Naquele ano novo, de novo [,] só os novos problemas. Problemas daqui. Problemas de lá. Problemas dacolá. Tava a fim de esganar um, uma dúzia, um milhão de pescoços.

Parou no semáforo. Uma guria aproxima-se do carro blindado para fazer o tradicional pedido. Algo naquela garota fez com que lhe viesse à mente a imagem da própria filha. Não sabia o porquê, mas o sangue ferveu.

“Tia, me dá boas festas? Quero comprar balas...”

“Ah!, você quer balas?”

Pegou o Magão 357 e deu duas balas dum-dum pra guria, direto na boca. Atendeu, literalmente, o pedido daquela criatura. ‘Seja feita a sua vontade’, pensou.

Durante o restante do caminho foi repassando seu sermão “Sobre a caridade”. Sermão de ano novo, com tom de esperança, de renovação. Desceu do carro. Concertou a indumentária. Limpou a garganta. Fez o habitual sinal ritual antes de pisar a escada. Subiu no separado e começou: “Qual é O PAI que, pedindo o filho um pão, dará uma pedra?” fez um silêncio prolongado, técnica que sempre utilizava para impactar emocionalmente seus seletos auditórios.

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