quarta-feira, 19 de julho de 2017

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I

Inverno invernal. Em pleno outono. O vento uiva, congela chamas, labaredas. Na calçada, uma das crianças chora. Pergunta pra mãe por que eles não têm casa pra morar. A mãe, além de não ter resposta, não está a fim de prosa.  Pensa um pouco sobre o que pensa há anos.  Diz que “é porque assim Deus quis, quer”. A criança tem fome, mas não engole essa. Nem outras. O que comer não tem.



II

Um cidadão, auto altamente considerado “de bem” e de “família estruturada”, passa. Sente-se incomodado. Pensa alto: “calçada é lá lugar de moradia pra ‘família desestruturada’?” Diz, por força das circunstâncias, “boa noite”, mas, na real, queria dizer o inverso. Segue, satisfeito e de queixo empinado, seu caminho rumo ao seu “lar, doce lar”. Satisfeito por ter dado duro na vida, por ter vencido sozinho na vida (ou a vida?). Satisfeito por não ser um perdedor-fracassado. Nesse momento percebera que estava numa esquina muito movimentada. Aproveitou e bateu repetidas vezes no próprio tórax e deu graças.


III

(re)publicano.



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